terça-feira, 8 de julho de 2014

Era melhor ter ido ver o filme do Pelé...


Pela semifinal da Copa em Belo Horizonte, a Seleção Brasileira acabou sofrendo uma surra da Alemanha, com direito a quatro gols em seis minutos, entre os minutos 23 e 29, que transformaram em vexame, já que a desvantagem e inferioridade eram tão grandes, que não havia sequer uma chance de mudar a história que estava sacramentada. Os brasileiros ainda puderam ver o centroavante alemão Klose marcar e ultrapassar Ronaldo como o maior artilheiro da história das Copas, com 16 gols

Poderia escrever o post do mesmo padrão dos demais desta Copa, com um resumo da partida e observações, porém desta vez farei diferente, já que os gols todos viram ou virão em algum telejornal, quase todos originados da mesma forma, com um toque de bola frio e sereno, fruto de um esquema tático bem definido e organizado, aguardando o melhor momento para definir a jogada. Somente o primeiro gol foi originado em bola parada, um fundamento que a Seleção Alemanha possui e que já definiu classificação contra a França.

A Alemanha não virou um “mega-time” da noite para o dia, já que o Selecionado de Joachim Löw enfrentou muitas dificuldades ao longo da sua trajetória, tendo uma trégua apenas na estreia contra Portugal, onde o time marcou 4x0, mas teve superioridade numérica por mais de 45 minutos e ainda teve um pênalti questionável que originou o primeiro gol. Imagino que nem os alemães esperavam tanta facilidade ofensiva para marcar, já que a Alemanha finalizou 14 vezes na partida, sendo 10 em direção ao gol. E só não finalizou mais porque não era mais conveniente forçar, já que o resultado estava consumado e havia a possibilidade de poupar forças para a final.

Fotos: @fifaworldcup_pt
O problema foi o próprio Brasil, que mostrou não ter soluções para amenizar a perda de Neymar, além da suspensão de Thiago Silva ter feito falta. Ocorreu uma má condução de fora para dentro, já que toda a comoção em função da lesão do Camisa 10 acabou entrando para o vestiário, retirando o foco do grupo, além de criar um peso emocional extra que não foi suportado após o gol sofrido, quando aconteceu um verdadeiro “apagão”.  Já no caso de Thiago Silva, a tentativa de anular o cartão desmoralizou o reserva, Dante, que é bom zagueiro, mas que em nenhum momento foi publicamente incentivado. 

Mesmo que tivesse a disposição o seu 11 ideal, projetaria um favoritismo alemão, que possui um time e grupo superior. O Brasil mostrou na Copa e nos amistosos preparatórios que possuía uma equipe de nível intermediário, e que com muita sorte poderia chegar até uma semifinal ou até uma final. E deu sorte, tanto no seu grupo, onde a classificação contra México, Croácia e Camarões foi tranquila graças à interferência da arbitragem em pelo menos três jogos, enquanto que nas oitavas o time foi inferior ao Chile e conseguiu eliminar o adversário, além de eliminar no sufoco a Colômbia. Nas semifinais, o Brasil era o candidato mais fraco, e passou a impressão que foi além das suas reais possibilidades, algo que fica de certo ponto mascarado em função de ser o país sede. 

A preparação toda foi mal conduzida. Começou em 2010 com Mano Menezes, que não conseguiu criar uma base muito menos um time. Felipão assumiu em 2012 e só conseguiu mostrar resultados na Copa das Confederações em 2013, um torneio onde as seleções não dão tanta importância, o que superestimou a força do Brasil para a Copa do Mundo. Já na Granja Comary, ocorreram muitos holofotes, com treinos sendo seguidamente interrompidos em função de entrevistas para televisão, com ações sociais e outras coisas que serviram apenas para atrapalhar. 

Neste ano de intervalo, equivalente a uma temporada europeia, ocorreram transferências de jogadores do grupo campeão para o exterior, que resultaram na perda de seus ritmos de jogo, casos de Bernard e Paulinho. Marcelo, Neymar, Oscar e Fred sofreram lesões e ficaram um bom tempo parados, enquanto que Júlio César enfrentou problemas para conseguir um clube, tendo que ir para a Major League Soccer. Felipão se escorou em seus homens de confiança e procurou mantê-los no time até as últimas circunstâncias, por mais que as atuações mostrassem a necessidade de mudança. Fred, por exemplo, fez o Brasil parecer que jogava com um a menos todos os jogos. 

O Brasil de Felipão resumiu-se a tentar (porque, na realidade, sequer conseguiu) reproduzir a formação da Copa das Confederações, que acabou manjada pelos adversários, além de não conseguir repetir a marcação intensa e sob pressão do ano passado, o que aumentou ainda mais as dificuldades e reduziu as chances de sucesso. O planejamento seguia ao estilo “vida loka”, sem estudar o adversário e saber de suas principais virtudes. 

Além disso, não houve um plano de contingência para o caso de algo dar errado, deixando o Brasil a mercê que tudo de positivo na Copa das Confederações desse certo, além de Neymar brilhar cada vez mais. A Seleção Brasileira mostrou ao desavisado torcedor que o atraso técnico e tático chegou a sua equipe, e que a diferença em relação a Alemanha foi abissal. Até então, os culpados dos fracassos do Brasil nas últimas duas Copas eram facilmente elencados e eliminados, porém ainda havia um time e jogadores com capacidade para desequilibrar, o que dava esperanças para que um novo técnico assumisse e levasse a Seleção para o caminho certo. 

Porém veio uma geração perdida, a partir de 2006, e que nunca se firmou, havendo a necessidade de uma reformulação total a partir da Copa de 2010, que não foi planejada e que na realidade não aconteceu. Quantos jogadores da seleção atual jogariam em 2002, por exemplo? Imagino que muitos responderão Thiago Silva, David Luiz e Neymar. Os demais são bons jogadores, porém questionáveis, sem haver qualquer opção inquestionável que tenha ficado de fora.

Por outro lado, há uma restrição a treinadores estrangeiros no país, onde poucos clubes se aventuraram a importar um nome do mercado latino ou europeu, enquanto que aqueles que estão na elite do futebol brasileiro acabam se acomodando, em virtude do troca-troca assoberbado de clubes. Não há inovações táticas nem uma tentativa eficiente de adaptar algum modelo de sucesso no país, sem que se tenha que voltar a mesmice. 

A Alemanha chegou ao fundo do poço entre as Eurocopas de 2000 e 2004, tendo um vice-campeonato enganoso em 2002 que não mudou a ideia de reformular tudo no futebol, aproveitando ser a sede da Copa de 2006. Houve uma mudança drástica nas categorias de base, com profissionais qualificados garimpando jogadores e treinadores, que eram devidamente treinados para desempenhar seus papéis e evoluir, utilizando sistemas táticos mais simples e sem a preocupação de buscar o resultado em competições de base, e sim em formar jogadores capazes de jogar profissionalmente em seus clubes e na Seleção principal.  

Em 2006 a seleção deu mostras do que estava por vir, e ser semifinalista já foi um grande resultado, com o trabalho sendo mantido e ganhando consistência até que chega ao auge em 2014, quando é grande a possibilidade de conquistar o tetracampeonato no Brasil. Holanda e Suíça viram o sucesso e seguiram o caminho, surgindo a famosa geração Belga, que terá mais experiência na Copa de 2018, enquanto que a Suíça saiu do seu clichê defensivista, complicando a Argentina. Itália e Inglaterra também rumarão a este caminho, enquanto que o Brasil faz vistas grossas. 

O Futebol Brasileiro está atrasado e já faz pelo menos uns 4 anos que escrevo de forma insistente e preocupada em relação ao futuro. Já é um caso de extrema urgência, pois vários países já estão seguindo o caminho da evolução, enquanto que o Brasil cisma em apostar apenas na técnica de seus boleiros peladeiros, onde muitos não seriam considerados jogadores em vários centros. Os jogos do Brasileirão são fracos, com muitas faltas, quedas forçadas e pouca emoção, e que refletem indiretamente na Seleção, já que poucos jogadores conseguem se destacar a ponto de se consolidar nos grandes centros europeus. 

Que as manchetes de “pior resultado da Seleção Brasileira na história das Copas” ou “pior resultado em semifinais” ou ainda “pior eliminação de um país sede” sirvam para aumentar a discussão visando reformular o futebol brasileiro. Não foi apenas uma derrota. Foi um vexame para não ser mais esquecido, pois poderia ter sido a pior goleada da história das Copas se a Alemanha não tivesse piedade e jogasse sério ao longo dos 90 minutos.

Tanto Alemanha quanto Holanda e Argentina seguem na disputa pelo titulo. Projeto uma final entre Alemanha e Holanda, as duas grandes equipes desta Copa e cujo vencedor será merecidamente o campeão. Ao Brasileiro, resta aguardar 10 dias para o retorno do glorioso Campeonato Brasileiro....

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