quinta-feira, 15 de maio de 2014

Eliminação do Cruzeiro finaliza péssima Libertadores do Brasil

Nesta quarta-feira, o Cruzeiro precisava reverter o placar de 1x0 a favor do San Lorenzo conquistado na primeira partida para continuar na disputa da competição sul-americana. Acabou surpreendido no início da partida e não conseguiu, sacramentando a eliminação do único representante vivo do país na competição, deixando as semifinais sem representantes brasileiros.

Depois das três eliminações na primeira fase, recorde negativo do país na história recente da competição, o Brasil ainda quebra mais dois tabus com a péssima campanha de 2014. Pela primeira vez desde 2004 um representante brasileiro não estará na final, enquanto pela primeira vez desde 1991, não há um brasileiro entre os quatro melhores. Tudo isso no ano da Copa no país, e onde o futebol local passa por severas críticas quanto a qualidade dos espetáculos. 

Apesar de ter feito uma péssima campanha na primeira fase e se classificado com uma reação no último suspiro contra o Universidad do Chile e o Real Garcilaso, o time mineiro concentrava as maiores expectativas do país na competição, em virtude de ter sido o único que mostrou lampejos de bom futebol no segundo semestre do ano passado, o que lhe deu um título brasileiro com certa facilidade. Porém o time demorou a engrenar, e quando se imaginava que iria rumar ao título, o Cruzeiro não conseguiu segurar o time argentino no jogo de ida, além de sofrer um gol logo aos 9 minutos de jogo, que minimizou com qualquer poder de reação do time mineiro, que ainda viria a empatar a partida no segundo tempo.

EFE/UOL
Os números do país na competição são bons, tendo em vista que conquistou os últimos quatro troféus, além de conseguir um predomínio na competição em virtude da capacidade econômica dos clubes em relação ao resto do continente. Como exemplo, levantado pelo jornalista Carlos Mansur, o orçamento do Bolívar que aprontou contra o Flamengo na primeira fase é quase 50 vezes menor (R$ 340 milhões contra R$ 7 mi dos bolivianos), enquanto que a média orçamentária de outros times é na casa dos 10 milhões, o que contrasta com os mais de 100 milhões que os grandes clubes faturam no país, chegando na casa dos 300 como o Flamengo. 

Quando afirmo que o país fez a sua pior campanha na Libertadores da história eu não estou apenas amparado por números (que até me contradizem, em virtude de péssimas campanhas no passado),  mas sim por qualidade do futebol e pela brutal diferença econômica entre os clubes. O futebol mostra que dinheiro não ganha jogo, porém esta premissa é apenas uma exceção, tendo em vista que apesar do futebol medonho apresentado nesta temporada pelos times brasileiros, ano que vem veremos um representante do país forte na Libertadores.

A verdade é que ano após ano o nível técnico do futebol brasileiro está decaindo, apesar do incremento significativo de receita por parte dos clubes. Não temos grandes evoluções táticas, enquanto a qualidade técnica está minguando, ao ser preterida nas categorias de base pela força e capacidade física. Alia-se a isso o fato de os dirigentes não terem critério na hora de contratar, além de onerar seus clubes com o pagamento de transações e salário por um valor acima do mercado, o que acaba gerando dividas e atraso no pagamento dos atletas e dos fornecedores.

EFE/UOL
Em campo, temos um jogo que se distancia cada vez mais do praticado na Europa, com poucas variações táticas, ausência de intensidade e de compactação do time, além de um jogo basicamente dependente da bola parada ou de erros da defesa adversária. Para complicar, até o envolvimento técnico de jogadores capazes de decidir partidas na habilidade com seus dribles minguou, fruto de uma mudança de visão nas categorias de base, preocupadas em gerar jogadores para exportação, mas que poucos efetivamente interessam ao mercado europeu. A falta de comprometimento tático faz com que os jogadores ganhem apelido de peladeiros, por não terem leitura de jogo e procurarem sempre se atirar, com poucos conseguindo reverter esta condição e crescer taticamente já nos gramados europeus. 

A Copa está se aproximando, e com ela virão os bons jogos, que o torcedor brasileiro não está acostumado a assistir. Muitos já possuem TV por assinatura e desfrutam das ligas nacionais como a Premier League, Bundesliga e La Liga, além das ligas europeias como a Europa League e a Champions League (que até passa na TV Aberta), porém grande parte dos brasileiros ainda só tem acesso ao futebol nacional. Os dirigentes deveriam aproveitar esta época para reunir-se, buscar conhecimento e um plano de gestão que melhore a qualidade do futebol praticado no Brasil. 

O país não precisa de muita coisa para se destacar na América Latina, cujos clubes adversários são limitados por fatores econômicos, porém perde a chance de ter uma liga de referência no continente, que poderia atrair mais investimentos e visibilidade, capaz de trazer jogadores de outros centros e aumentar a qualidade local. Porém para que isso aconteça é necessário que o país tire o rotulo do coitadismo, e passe a acreditar mais nos seus valores. 

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