Passadas quatro etapas da “Nova F1”, já é possível projetar como será o restante da temporada, já que não há muito espaço para aperfeiçoamento em virtude dos treinos serem restritos em meio ao campeonato.
Desde que passei a acompanhar a categoria, meados da década de 90, jamais vi tantas mudanças de regulamento em uma temporada, visando deixar a categoria mais ecologicamente sustentável e também para tirar o domínio da Red Bull, que faturou os últimos quatro campeonatos nas mãos de Vettel, e que deixava a categoria sem graça.
Com as novas regras, a Mercedes “inventou a roda” e construiu uma vantagem de equipamento que inviabilizará qualquer disputa pelo campeonato, a não ser entre a dupla Hamilton e Rosberg. A equipe foi presenteada com o melhor motor da categoria, tanto em rapidez quanto em confiabilidade e eficiência de consumo de combustível. Das quatro primeiras etapas, foram quatro vitórias da equipe, sendo três de Hamilton e uma de Rosberg. O alemão lidera o campeonato em virtude de ter conquistado o segundo lugar nas três etapas restantes, além de ver seu companheiro inglês ter abandonado na etapa da Austrália.
Porém a fome de Hamilton faz parecer que não chegaremos a ter uma disputa pelo campeonato, já que o inglês deverá ultrapassar seu companheiro na pontuação e disparar rumo ao seu segundo título. O inglês não dá chances para Rosberg no duelo interno e consegue tirar mais do carro que seu companheiro, mostrando o talento escondido na decadente McLaren, por onde chegou a ganhar o título de 2008 mas cujas chances de vitórias foram se reduzindo com as péssimas temporadas do time prateado, o que o levou a trocar para a Mercedes em 2013, e conquistou apenas uma vitória, em virtude da supremacia da RBR.
A disputa pelo terceiro lugar no campeonato de pilotos e pela segunda equipe promete ser competitiva, já que Red Bull, Force India, Ferrari, McLaren e Williams estão separadas por poucos pontos, em uma disputa dos demais times com motor Mercedes com as endinheiradas Ferrari e Red Bull, que devem encontrar soluções e garantir o 2º e 3º lugares nos construtores. A supremacia destes times é tão grande comparado às demais cinco, que apenas a Toro Rosso conseguiu marcar pontos (7). As demais (Lotus-Renault, Sauber, Marussia e Caterham) estão zeradas, sem grandes perspectivas de melhorias, já que não contam com um grande orçamento.
A disputa escrita no paragrafo anterior é em relação ao equilíbrio entre os cinco times na busca pelas oito posições restantes da zona de pontuação (as duas da Mercedes nem são computadas), já que na pista, há poucos momentos de emoção, já que a categoria continua sendo decidida nas estratégias e telemetrias. Os pilotos viraram apenas uma peça no jogo, e parecem meros condutores de um carro controlável pela equipe via telemetria, já que esta pode definir o tipo de mistura do combustível, acerto, e até ordenar a ultrapassagem do companheiro que venha em melhor momento. Para complicar, o regulamento de combustível faz com que as equipes tenham que economizar ao longo da prova, o que diminui as chances de grandes disputas, além de desestimular o próprio piloto.
De quatro etapas que tivemos, três foram no horário da madrugada, o que está me fazendo repensar em abrir mão de uma noite mal dormida para assistir a GPs sem graças, caracterizados por um domínio absoluto da Mercedes e os pilotos e equipes mais preocupados em economizar combustível do que traçar estratégias agressivas em busca da vitória.
O único ponto fora da curva foi o GP do Bahrein, que foi sensacional e com muitas ultrapassagens. Foi uma corrida bom bastantes alternativas, mas que não retirou o domínio da Mercedes, pelo contrário, até mostrando a força do time com as longas retas, onde em alguns momentos da prova os bólidos alemães chegaram a ser mais de dois segundos mais rápidos que os concorrentes. Houve até uma teoria da conspiração que credita esse grande GP à pressão sofrida pelas equipes, após duas corridas sofríveis no início de temporada que geraram muitas reclamações e até críticas públicas por parte de Bernie Ecclestone. Porém, depois do GP da China, credito a mera coincidência.
O panorama dos próximos GPs deverá ter o domínio normal da Mercedes, com todos os pilotos sendo orientados a economizar combustível. É um ponto que a FIA terá que rever para a próxima temporada, aumentando o fluxo ou até a quantidade de combustível, senão dificilmente teremos os pilotos mostrando todo o potencial, como víamos na era gloriosa da categoria. A questão de necessidade de economia do equipamento também influi negativamente, já que os times mostram-se preocupados em como irão chegar até o fim da temporada sem levar punições, já que o motor é novo e ainda carece de maior confiabilidade e eficiência de consumo, o que deixa os times receosos em liberar uma rotação maior, deixando os carros excessivamente lentos.
Como há um congelamento no desenvolvimento dos motores, prevejo um domínio da equipe também ao longo das próximas temporadas, a não ser que Newey tire coelhos da cartola, e que tanto Ferrari quanto Renault possam mexer no motor, para melhorá-lo e deixa-lo ao nível do Mercedes. A Honda que entrará na próxima temporada nos carros da McLaren levará vantagem, pois já é público um dos segredos que faz com que o motor Mercedes seja mais eficiente que os demais. A solução é relativamente simples, porém teria que alterar a estrutura do motor, o que não sabemos se será permitido a Renault e a Ferrari faze-lo.
Se a categoria continuar assim, elitista e conivente com as grandes montadoras, a Formula 1 tende a ficar insustentável e morrer, já que teríamos apenas quatro ou cinco equipes/montadoras dispostas a torrar fortunas em busca de vitórias e títulos. É discutido há tempos a proposta de teto orçamentário, mas que já foi rechaçada, ao mesmo tempo em que os times menores sofrem para pagar em dia o salário dos pilotos, que até chegaram a ensaiar uma greve. A categoria tomou estes rumos há algum tempo, e que parecem estar em um caminho sem volta, enquanto que o número de fãs assíduos vem diminuindo progressivamente a cada ano.
Para esse ano no que se refere a titulo, nada pode ser feito, a não ser acompanhar a briga interna da Mercedes, onde Hamilton pinta como favorito. Disputa mesmo teremos pelo terceiro lugar no mundial de pilotos, onde Alonso surge como favorito, mostrando todo o seu talento no atraso (para o espanhol) que está sendo a Ferrari.
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