Os jogos de ida pelas oitavas-de-finais da UEFA Champions League mostraram que já há um desiquilíbrio significativo no futebol do continente, o que poderá por em risco o atual formato da competição e até a sua reputação de melhor dos melhores campeonatos interclubes.
Depois de três temporadas polarizadas entre Real Madrid e Barcelona, o Bayern de Munique juntou-se a dupla espanhola na temporada passada e formou um trio, que poderá futuramente ampliar-se para um quarteto conforme a evolução do Paris Saint-Germain. Em comum, estes times dominam de forma predadora os campeonatos nacionais e estão conseguindo impor-se também nas competições europeias, apesar de cada um chegar a esta condição por diferentes motivos.
A tão badalada e ascendente Bundesliga (Campeonato Alemão) colocou quatro clubes entre os 16 melhores da Europa, porém Bayer Leverkussen e Schalke 04 tiveram o azar de enfrentar logo de cara o PSG e o Real Madrid e já saíram virtualmente eliminados no primeiro jogo, diante de seus torcedores. O Bayer, atual segundo colocado do seu respectivo nacional, não foi capaz de segurar os franceses comandados pelo goleador Ibrahimovic e levou 4x0 dos franceses em plena BayArena, enquanto que o time de Gelsenkirchen levou 6x1 dos Merengues, em uma jornada antológica dos espanhóis comandados pelo trio de atacantes Bale, Cristiano Ronaldo e Benzema.
Os ingleses Arsenal e Manchester City, que duelam ponto a ponto com o Chelsea pelo titulo da Premier League, também estão virtualmente eliminados ao serem derrotados em suas casas pelo Barcelona e o Bayern por 2x0, o que mostra a total disparidade, tendo em vista que o nacional inglês é há muitos anos o mais rico, porém suas equipes não conseguem mais se impor no território europeu, apesar de todos os esforços os bilionários que comandam o City e o Chelsea, embora este último ainda tenha grandes chances de se classificar para as quartas-de-final, mas para conquistar a taça é tão azarão quanto foi há duas temporadas quando conquistou a Europa.
Como comparação, nas temporadas 2006-07 e 2007-08 os ingleses colocaram 3 dos 4 finalistas, embora em um deles o intruso Milan tenha conquistado o titulo. Usei o campeonato Inglês como exemplo em virtude da riqueza do nacional, porém a Football Association (FA) busca um sistema mais paritário na divisão das receitas além de ter um controle financeiro mais rígido, o que faz com que não haja um predador, apesar da supremacia do United nos últimos anos, mas que nem é de longe comparada a atual de Real Madrid e Barcelona no espanhol, por exemplo.
Com um Real Madrid encaixado por Ancelotti , um Bayern quase imbatível treinador por Guardiola, o vai e vem do Barcelona de Messi e a ascensão do PSG, a Champions League entra na era das goleadas, contra times de mercados mais representativos. É bom a UEFA ficar de olho, pois times de mercados de tradição, mas que não conseguem mais competir economicamente, estão ficando no segundo escalão, dominados por times de “brinquedo” de bilionários e os grandes Bayern, Barcelona e Real Madrid, que descobriram a roda do futebol capitalista e largaram na frente.
A competição já teve outros momentos de hegemonia, como os 5 títulos do Real Madrid entre as décadas de 50 e 60, porém era uma outra época do futebol, que ainda buscava o seu profissionalismo e era formada por esquadrões que marcavam época mas que chegavam ao fim, pois transferências não eram tão comuns e o dinheiro era bastante limitado. Hoje o dinheiro está comandando o futebol e quem paga mais leva mais. Real Madrid, Barcelona, Bayern e os times patrocinados pelos bilionários têm poder de compra para renovar sistematicamente seus elencos e mantê-los em um nível de competitividade maior do que a maioria dos outros times.
A Champions League era inicialmente formada pelos campeões de seus países, mas que em 1997 concedeu o direito de mais agremiações dos melhores centros poderem disputa-la, aumentando o nível da competição. Foi criado o coeficiente da UEFA que classifica os campeonatos de acordo com a pontuação dos clubes nas competições europeias, o que faz com que Espanha, Inglaterra e Alemanha tenham dinheiro a 4 clubes na Champions League.
Se essa tendência de predadores se acentuar, não haverá outra solução da UEFA a reduzir o formato da competição, como forma de mantê-la competitiva. Nos últimos anos, a fase de grupos já não trazia grandes emoções, a não ser quando surge um clube patrocinado que não tem muita representação no continente europeu e, que por isso, fica em um pote inferior criando um grupo mais complicado. Fora isso, há apenas o duelo entre dois clubes tradicionais por grupo em busca do primeiro lugar, algo que não tem mais acontecido com frequência, em virtude da diferença de qualidade entre os clubes.
Daqui a 2 semanas, teremos os jogos de volta das oitavas-de-final, onde apenas dois ou três jogos dos 8 não serão efetivamente amistosos. Isso não é bom para a competição, que é o sonho de todo jogador e treinador.
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