A derrota do Galo na estreia do Mundial de Clubes no Marrocos contra o anfitrião Raja Casablanca é tão emblemática, que me forçou a escrever uma continuação do post anterior, pois continuei pensando a respeito e cheguei à conclusão que não escrevi tudo o que queria.
Em 2010, quando o Internacional perdeu para o Mazembe, imaginou-se que seria um retumbante fracasso isolado, na base da soberba e da má preparação, e que dificilmente seria repetido. No entanto, em 2013 o Galo repetiu a façanha do Inter e perdeu para outro time africano, o que reacende a polêmica de qual o valor atual do futebol brasileiro no cenário mundial, afinal já são duas eliminações nas semifinais nas últimas quatro competições, onde sempre se projeta uma final entre o representante europeu com o sul-americano.
A partir de 2011, em função do fator Copa do Mundo e de uma política de negociação individual de quotas de TV com a principal emissora do país, os grandes clubes da Série A jamais ganharam tanto recurso de forma abundante, que permitisse a manutenção dos grandes jogadores e melhorasse a estrutura dos clubes. Projetou-se um grande Campeonato Brasileiro pelo menos até a Copa, com revelações como Neymar permanecendo no país e outros “Neymares” surgindo para que o futebol brasileiro começasse a ganhar maior relevância no exterior.
O ano de 2013 ficará marcado como aquele na qual os clubes tiveram os maiores orçamentos da história, porém nota-se que o nível técnico do futebol brasileiro não acompanhou o ganho exponencial de faturamento dos clubes, o que já acende o sinal vermelho em quem se dispôs a investir milhões nos clubes, pois tivemos 95% dos jogos da temporada com nível técnico sofrível, o que faz a audiência de quem transmite cair em virtude do desinteresse pela mesmice.
O fato de os clubes terem os maiores orçamentos da história ainda não é tudo, tendo em vista que grande parte dos clubes, em virtude de suas gestões amadoras, extrapolou a quantidade orçada e terminará a temporada em déficit, o que exigirá uma nova política orçamentária já para 2014, com razoáveis cortes de gasto. Os clubes chegaram a conclusão que os jogadores estavam recebendo muito para a pouca qualidade mostrada em campo, porém esta nova política de cortes de gastos farão com que jogadores com razoável qualidade técnica acabem saindo do país para outros centros, como o futebol mexicano, dos Emirados Árabes, do asiático e do leste europeu.
O futebol brasileiro têm, atualmente, vícios desde a formação dos jogadores até a escalação dos times titulares. Nas categorias de base, há uma preferência por jogadores com maior vigor físico e que, em tese, seriam prediletos pelo futebol europeu. No entanto, o futebol brasileiro nunca foi abastecido por brutamontes, cuja maioria tem limitações técnicas, e que somado com a falta de cultura tática do nosso futebol, deixa a maioria dos jogadores sem serventia para o futebol europeu, por não ter a técnica e tática esperada, além de deixar o futebol brasileiro feio.
Outro “fator problema” das categorias de base é a necessidade de conquistar competições, o que faz com que esquemas mais defensivos e que não desenvolvem todo o potencial dos jogadores sejam utilizados, o que faz com que hoje haja muitas posições com problemas de reposição, como as laterais, o famoso camisa 10 e o segundo atacante. Já no profissional, há todo um descritério dos clubes em subir jogadores, além da política de contratações que muitas vezes não contemplam o melhor jogador em qualidade técnica, cuja responsabilidade está na relação dos dirigentes com os empresários de jogadores.
No quesito tático, o futebol brasileiro não evolui muito em função do endeusamento dos treinadores brasileiros, que se sentem a vontade para sair de um clube e assumir imediatamente outro, sem passar por um processo de readaptação. Há a necessidade de conscientização dos treinadores em passar por um intercâmbio na Europa, em busca de atualização profissional. O futebol brasileiro parece ter parado nos conceitos dos anos 80 e 90, e somente resumir-se a tratar esquemas como números (4-4-2, 4-2-3-1, 4-1-4-1) não resulta em mudanças significativas. Os clubes continuam sem grandes soluções para a transição defensiva ofensiva, além da falta de compactação, que deixa um futebol mais espaçado permite uma quantidade maior de erros, além de deixar os jogos lentos.
Para piorar ainda mais a lambança do futebol nacional, há um descritério em relação ao calendário, formado por muitos jogos desinteressantes para agradar Federações e a grade de programação das TVs. As autoridades do país privam pela quantidade e não pela qualidade. Há ainda toda uma desorganização fora das quatro linhas, com clubes financiando torcidas organizadas e que estão maculando o futebol pela violência através da guerra de interesses e que não é coibida pela segurança pública, além de sucessivamente campeonatos acabarem nos tribunais.
O título do Corinthians em 2012 era um alento ao futebol brasileiro, porém um ano depois, pode-se afirmar que por tudo que aconteceu neste final de temporada, pode-se afirmar que o futebol disputado no Brasil chegou ao fundo do poço, clamando por providências urgentes para não perder o que ainda detêm, como a supremacia técnica e econômica na América Latina. Com um produto cada vez pior, a audiência e a procura de anunciantes será menor e como consequência teremos um futebol cada vez mais fraco no país.
Para que esta tendência não se torne uma realidade, é imprescindível que todos envolvidos no futebol nacional abram mão de seus interesses particulares e pensem num melhor futebol brasileiro, que em um curto ou longo prazo será bom para todos, inclusive para aqueles que ganham dinheiro com ele.
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