sábado, 17 de dezembro de 2011

Cinco anos de uma partida perfeita


Neste dia 17 de dezembro, o torcedor santista não consegue conter a ansiedade pela final do Mundial de Clubes da FIFA contra o Barcelona, às 08h30min do próximo domingo. Não muito tempo distante, o Internacional conseguiu o que o torcedor santista e a maioria do povo brasileiro amante do esporte também esperam do peixe.

Na época o blog nem existia e eu também não tinha discernimento entre paixão e esporte, o que acabava me classificando como um simples e apaixonado torcedor. Talvez por ver o meu time ganhar um monte de títulos, aos poucos fui deixando de lado a paixão de torcedor, para virar um amante do esporte, mas sem deixar de torcer pelo meu time do coração.

Dentre as comemorações dos cinco anos da conquista do Mundial pelo Inter, fui ao meu acervo de jogos gravados e revi Barcelona 0 x 1 Internacional para tentar extrair informações técnicas que fizeram o Internacional bater o melhor time da época, e que indiretamente acaba servindo de lição para que o Santos também possa fazer o mesmo.


Em 2006, o Barcelona estava em um final de ciclo que o levou de volta ao roll dos vencedores. O time vinha de várias temporadas no ostracismo, perdendo espaço para equipes como La Coruña, Valência, tendo dificuldades para se classificar para a Champions League e chegando a ficar de fora na temporada 2003/04. Foram cinco temporadas em jejum de títulos entre a 15ª conquista da liga espanhola em 1998/99 para a 16ª em 2004/05. A contratação de Ronaldinho na pior temporada da equipe (2003/04) neste ciclo fez efeito imediato, pois na temporada seguinte o time conquistava novamente a liga espanhola. Não é atoa que o craque brasileiro é considerado o ícone deste “novo Barcelona”.

A “era” Ronaldinho foi marcada por duas conquistas da liga espanhola, duas supercopas da Espanha e uma Champions League. Individualmente o craque abocanhou dois títulos de melhor do mundo (2004 e 2005), e o ano de 2006 marcava o início da decadência do craque, que ficou até o fim da temporada 2007/08, quando perdeu espaço e se transferiu para o Milan. O meia Deco e o treinador Frank Rijkaard também saíram nesta janela, marcando o fim definitivo deste ciclo.

Em 2006 o Internacional marcava o início de seu ciclo vitorioso, que quase começou em 2005, caso não houvesse a “Máfia do Apito”, que acabou anulando jogos e sonegando um título brasileiro do time para o Corinthians/MSI. A manutenção da base vice-campeã brasileira foi determinante para as conquistas de 2006, que começou com a conquista inédita da Copa Libertadores e a chance de disputar o primeiro mundial interclubes da FIFA em sua história.

A tarefa colorada ficaria menos impossível com as lesões de Messi e Eto´o dias antes, que impediram as suas participações na competição. Naquela altura, Messi era uma revelação, um menino prodígio, enquanto Eto´o era o principal atacante da esquadra de Rijkaard. Sobraram para o treinador as opções do francês Giuly e de Gudjohnsen, este um islandês que recém havia sido contratado do Chelsea e que por falta de opção acabou disputando o Mundial de Clubes, já que o treinador tinha apenas Ezquerro como opção alternativa.


Na decisão, o Barcelona jogou em um esquema 4-3-3, e foi formado por Valdés; Zambrotta, Rafa Marquez, Puyol e Gio (van Bronckhorst); Thiago Motta, Iniesta e Deco; Giuly, Ronaldinho e Giuly. O jogo pelos flancos era a principal característica do time, principalmente buscando a categoria de Ronaldinho Gaúcho na ponta esquerda, com o atacante tendo a liberdade para se movimentar para o meio e buscar tabelamentos com Deco. Os laterais Zambrotta e Gio eram fracos no apoio, tanto que o treinador colocou Beletti na segunda etapa como lateral direito. 


Outra grande característica do time era a marcação sob pressão no campo do adversário, com Ronaldinho e Gudjohnsen recuando e formando uma linha de quadro elementos com Iniesta e Deco, deixando a formação em um 4-1-4-1 quando o time não detinha a posse de bola, o que facilitava a retomada e jogadas rápidas de ataque. Os constantes apoios de Iniesta pela esquerda e Deco pela direita, faziam o Barcelona atacar pelo menos com cinco jogadores, fora os raros avanços dos laterais.


Já o Internacional jogava em um 4-4-2 (4-3-1-2), e que poderia ser considerado um falso 4-3-3 formado por: Clemer; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho, Wellington Monteiro, Alex e Fernandão; Iarley e Alexandre Pato. Tudo porque Fernandão compunha o vértice mais agudo de um losango, porém se projetava como centroavante quando o time estava com posse de bola no campo de ataque. Pato e Iarley jogavam mais abertos, quase em linha com os laterais do Barcelona, o que facilitava a penetração de Fernandão.


Como o Barcelona tinha mais qualidade técnica, o time catalão ficava com maior posse de bola, restando ao Inter explorar os contra-ataques. Na formação inicial, apenas Rubens Cardoso atacava com maior frequência, enquanto Ceará, Wellington Monteiro e Alex tinham maiores incumbências defensivas, e eventualmente partiam ao ataque. Destes, Ceará marcava individualmente Ronaldinho Gaúcho, conseguindo brilhantemente anulá-lo, porém foi praticamente nulo ofensivamente. Monteiro conseguiu umas arrancadas, além de chutar a gol na primeira etapa, enquanto Alex estava mal no jogo, e foi substituído por Vargas no Intervalo.


O gol que deu o titulo ao Inter veio após um chutão de Índio ao campo de ataque e duas cabeceadas posteriores de Gabiru e Luiz Adriano, que encontraram Iarley que individualmente soube se livrar da marcação e esperar o “time” da jogada, pois ganhou a companhia dos companheiros que participaram ativamente do jogo aéreo no meio-campo para servirem de opções para o arremate. Gabiru apareceu na esquerda e Luiz Adriano na direita, com Iarley preferindo o primeiro que saiu na cara do gol e desviou de Valdés. Um contra-ataque perfeito, com três jogadores colorados contra quatro do Barcelona e que valeu o Mundial de Clubes daquele ano.


Um jogo que entrou para a história do futebol brasileiro e que servirá como exemplo para o Santos. Naquela noite japonesa, tudo deu certo defensivamente ao Inter, enquanto o time soube aproveitar uma das poucas jogadas de ataque que teve ao longo do jogo. O Barcelona 2011 é superior ao de 2006, bem como o Santos é superior tecnicamente ao que foi o Inter. O time de Neymar e Ganso deverá ter algumas chances de gols e necessitará de um grande aproveitamento. Por outro lado, a inconstante defesa santista terá que fazer uma jornada perfeita, pois uma chance para Messi é mais de meio gol.  

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