sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eliminações expõem fraco futebol atual no Brasil

Nesta quinta-feira, o Atlético-MG empatou em 1x1 contra o Atlético Nacional da Colômbia e acabou eliminado da Libertadores, deixando apenas o Cruzeiro como representante único do país na competição.

Dos seis representantes do país, três ficaram na fase de grupos e dois nas oitavas-de-final, e agora, assim como foi com o Santos em 2011, o Brasil terá apenas um representante nas quartas-de-finais, o que é um verdadeiro vexame se compararmos a diferença econômica dos clubes brasileiros para com os latinos, como já abordei extensamente neste post (clique aqui) e que não convém ser repetido, mas que caracteriza a obrigação de vitória dos representantes do país na competição.

É em função desta discrepância econômica que dá aos brasileiros um poderio incomparável em montar elencos qualificados em relação aos demais latinos que aponto o Cruzeiro como favorito para esta Libertadores, pois é tecnicamente o melhor time que ainda disputa a competição. Eu sei que somente técnica não ganha jogo, mas se olharmos a tradição dos times que restaram na competição, seus orçamentos, seu estádios acanhados, vemos que pega mal o fato de dirigentes dos clubes brasileiros valorizarem demasiadamente seus adversários, que tecnicamente regulam aos interioranos que vemos nos estaduais, com técnicos mais bem qualificados e maior disposição para brigar pelas vitórias.

O futebol brasileiro necessita de uma reciclagem urgente, pois as negociações de jogadores e treinadores atingiram um círculo que não leva a lugar nenhum. É só olharmos as últimas transferências, de relegados de um clube que surgem como solução para outro, e que muitas vezes acabam atrapalhando ascensão de garotos, que se bem trabalhados poderiam dar melhor resposta e gerar dividendos futuros. A mesma coisa falo com relação aos treinadores, já que não vemos muitas revelações surgindo, com os clubes sempre procurando recorrer aos “dinossauros” para tentar justificar planejamentos ruins e ganhar respaldo através de seus títulos passados.

Qual a chance de surgir um Simeone (atual técnico do Atlético de Madrid) no Brasil? Antes de atingir o sucesso como treinador, Simeone desenvolveu a sua carreira no futebol argentino para depois treinar o modesto Catania. Qual treinador brasileiro aceitaria treinar o Catania para ampliar seu conhecimento?  Muitos vão falar que o problema é a língua, mas e em Portugal, porque não vemos treinadores brasileiros lá?

Eu acompanho o futebol europeu e vejo as tendências táticas que os clubes tomam para ter um padrão de jogo consistente, além de aperfeiçoar tecnicamente os jogadores. Atualmente vemos uma salada de números como o 4-2-3-1, 4-1-4-1, 4-3-3, 4-4-2, dentre outros. Cada treinador opta pelo esquema que otimiza seu plantel, porém em todos vemos compactação, intensidade para atacar bem como uma recomposição rápida. Porém isso não acontece no Brasil, onde os times já entram pensando no anti-jogo, em um ritmo lento, truncado, e cujos percentuais de bola rolando não atingem o mínimo recomendado pela FIFA.  Todos os times são espaçados, por onde se criam oportunidades em virtude dos erros individuais, sempre com a predisposição do jogador em praticar o anti-jogo, isto é, cair para simular falta.

Essa mentalidade técnica dos jogadores e falta de aperfeiçoamento tático dos treinadores deixam o futebol brasileiro mais pobre, além das tradicionais transferências dos melhores jogadores e do amadorismo dos dirigentes, que viraram reféns dos empresários que detém o poder de colocar jogadores nos clubes em troca de uma ajuda quase sempre necessária em tempos difíceis, quando o clube não tem dinheiro e precisa dos profissionais para montar elencos. Isso não é um privilégio dos times brasileiros, e acontece até com maior força no futebol latino, porém ainda não vemos essa interdependência no futebol Europeu.

Quando o Brasil fracassa na Libertadores não há nem como atribuir o mérito aos times latinos, pois os vizinhos tem muitas dificuldades para montar equipes minimamente competitivas com seus orçamentos modestos Basta ver os jogos das oitavas-de-finais, com os 16 times teoricamente mais fortes. Quantos estádios eram acanhados similares aos vistos nos nossos Estaduais? E a folha de pagamento dos clubes? Não estamos falando em metade ou um terço do orçamento brasileiro, mas em 30 a 50 vezes menor. 

Nas quatro ultimas edições do Mundial de Clubes, o representante africano bateu o sul-americano duas vezes, o que gera questionamentos quanto a justiça do representante da Libertadores começar nas semifinais, juntamente com o representante europeu. Os títulos do país na competição foram totalmente circunstanciais, pois nossos representantes pegaram times europeus desmobilizados com a importância da competição, além de enfrentar desfalques e estarem focados em outras competições prioritárias. Para um Europeu, o Mundial tem o peso de um Estadual, isto é, tem importância, porém não é o foco.

Eu acredito que se o Brasil valorizasse mais suas competições nacionais locais, profissionalizando a gestão dos campeonatos e principalmente a dos clubes, surgiria uma liga de referência para a América Latina e que poderia atingir a Europa e Ásia, em virtude dos horários diferenciados. Os resultados mostram que não basta apenas se vangloriar dizendo que é o melhor do continente, já que o futebol dos outros centros cresce. Porém é cultura no país utilizar o pensamento de um vira-lata, procurando compara-lo à mesmice. 

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