Neste domingo, o Internacional terminou a sua participação no Campeonato Brasileiro com um deprimente empate em 0x0 contra o time reserva da Ponte Preta, composto inclusive por alguns juniores. O resultado foi suficiente para que o clube escapasse da Série B, porém serviu para mostrar que por pouco o pior não aconteceu.
O Colorado terminou a temporada na 15ª colocação com 48 pontos, dois a mais que o rebaixado Fluminense. Para ter uma ideia, se o clube não tivesse empatado ao menos dois de seus 15 empates e terminasse com os mesmos 46 pontos de Fluminense (17º) e Criciúma (16º), o time seria rebaixado pelo número de vitórias.
Eu já escrevi em posts anteriores que o clube somente escapou do rebaixamento em virtude de ter emendado 4 vitórias consecutivas no primeiro turno, pois retirando esta sequencia e efetuando uma média de aproveitamento entre os 34 jogos restantes, o Inter teve apenas um aproveitamento superior ao do Náutico e da Ponte Preta.
Antes de projetar a próxima temporada, é necessário buscar as razões para o péssimo ano, já que o clube conquistou apenas o Gauchão e falhou nas demais competições, além de deixar um déficit financeiro considerável e incertezas quanto ao elenco para o próximo ano, tendo em vista que muitos jogadores que não deram resposta possuem contratos longos e dificilmente o clube conseguiria repassá-los sem ter um ônus significativo.
Encontrei pelo menos cinco razões que fizeram o clube fracassar tanto em 2013.
Estádio
A ausência do Beira-Rio fez diferença negativa na temporada 2013, porém não pode ser apontada como a única causa para a péssima temporada. A direção colorada bateu o ano todo nesta tecla como forma de se eximir de um eventual fracasso, porém nem todos os clubes contaram com a sua casa ao longo da temporada, pois as arenas da Copa das Confederações não foram utilizadas regularmente antes do início da competição de seleções.
Há ainda o caso do Atlético-PR, que sequer jogou no seu estádio em 2013, o que acaba rebatendo a tese de que a falta do Beira-Rio foi o motivo determinante para o fracasso na temporada. Além disso, houve uma falta de planejamento para a definição da casa alternativa do clube ao longo deste tempo, o que escreverei no item planejamento.
Direção
Desde que entrou efetivamente na gestão do Internacional, Giovanni Luigi acumula uma série de fracassos, seja como dirigente responsável pelo futebol, seja como presidente do clube. Em 2007, Luigi passou a comandar o futebol do então Campeão da Libertadores e do Mundo, porém fracassou e teve que pedir ajuda a Fernando Carvalho para reduzir o vexatório ano com apenas uma Recopa conquistada e voltar a ganhar títulos em 2008. No final de 2010, assumiu como presidente, com o clube ostentando o titulo de bicampeão da Libertadores, porém o máximo que conseguiu foram conquistas de Campeonatos Gaúchos e uma classificação para a Libertadores de 2012, onde não fez uma boa campanha. No Campeonato Brasileiro, foi apenas o 10º em 2012 e 15º em 2013.
Para esta temporada, Luigi contou com o apoio de Marcelo Medeiros e Souto de Moura como responsáveis pelo futebol, mesmo que estes não tivessem experiência no departamento. O trio não foi capaz de renovar o elenco do Inter nesta temporada, além de perder jogadores para o futebol europeu (Moledo e Fred) e não repor adequadamente. Para complicar, até as contrações tidas como certeiras (por envolver jogadores de renome) foram um temendo fracasso em campo, como Scocco, Jorge Henrique e Alex.
Planejamento
Esse talvez seja o item com mais peso em um eventual fracasso ou sucesso de um clube. O Internacional sentiu a falta de um planejamento adequado, tanto em termos logísticos quanto em termos financeiros e futebolísticos.
O clube não planejou o tempo que ficaria sem o seu estádio para achar a melhor casa possível. O tempo fora do Beira-Rio foi subestimado, pois a direção achava que o clube iria passar pouco mais de 6 meses fora do estádio. Primeiro falou-se na arena do Cruzeiro de Porto Alegre, que acabou não ficando pronta. Depois o estádio Centenário, onde o clube mandou boa parte de seus jogos na temporada, apenas abrindo espaço a um desastroso hiato no Estádio do Vale, em Novo Hamburgo. Se tivesse planejado, o clube poderia ter melhorado o estádio Passo da Areia para jogar, o que reduziria problemas de logística.
O Internacional superestimou a força do grupo, pois acreditava que o problema do final de temporada ruim estava apenas no comando técnico e na zona de conforto de Bolívar, o então capitão do time. O jogador saiu e foi para o Botafogo, aonde chegou a se destacar, enquanto que para o comando técnico vieram Dunga e Paulo Paixão, que fizeram uma temporada mediana enquanto estiveram no clube. O clube não planejou as eventuais perdas do meio da temporada em virtude da necessidade de obter recursos, superestimando alguns jogadores que já estavam no grupo, além de contratar medalhões caros e velhos, que não renderam o esperado. No fim das contas, o grupo envelheceu 1 ano, e alguns jogadores que já davam sinais de esgotamento continuaram.
No aspecto financeiro, o clube gastou muito mais do que ganhou ao longo desta temporada. Não houve um cuidado com a logística de jogar sempre fora de Porto Alegre (com exceção do confronto contra o Grêmio na Arena), e o clube acabou subestimando os gastos e a queda de receita pelo fato de não jogar em casa. O clube também não se livrou de medalhões “cavalos-cansados” que oneravam a folha de pagamento, além de precisar gastar milhões em contratações para tentar agradar a torcida, como o caso de Alex e Scocco. No final das contas, mesmo com as vendas de Moledo e Fred, o clube deverá terminar a temporada com um gigantesco déficit, especulado entre 30 e 40 milhões.
Descomprometimento
Esta palavra serve tanto para Direção quanto para os Jogadores, e tem relação com a falta de planejamento.
Em relação à direção, cai o fato de não haver preocupações com o rumo pela qual o clube estava tomando ao longo da temporada. Era visível a queda de produção do time do Inter, porém a direção preferia atentar a outros problemas, como a falta do Beira-Rio e o titulo do Campeonato Gaúcho, para explicar o que estava se tornando um vexame. Um dirigente chegou até dar-se por satisfeito em figurar na primeira metade da tabela (1º ao 10º) no Campeonato Brasileiro, mesmo com todo o investimento do clube no grupo de jogadores. A direção somente assumiu publicamente que o objetivo era evitar o rebaixamento faltando três rodadas para o final, na véspera do decisivo jogo contra o Coritiba, onde uma derrota poderia ter complicado o Inter na sua permanência para a Série A.
A falta de comprometimento diretivo em relação a campanha do clube deve ter chegado ao grupo de jogadores, já que eventuais fracassos eram sempre rebatidos com a conquista do campeonato estadual e a falta do Beira-Rio para os jogos. Sem a cobrança necessária, alguns jogadores nitidamente se relaxaram, caindo drasticamente de produção, enquanto outros, com vontade, mas sem estar na primazia técnica até tentavam, o que acabou gerando alguns rumores de discussões internas entre os grupos. Apenas D’Alessandro teve um ano regular, saindo como o grande destaque do time no ano.
Política
O Internacional vive uma um período de divisão política, fruto de interesses difusos de vários grupos que até então haviam fechado com Fernando Carvalho em busca de uma trégua política para que com união o clube voltasse a conquistar títulos importantes. Depois das conquistas dos títulos e das gestões sucessoras, foram surgindo outros grupos descontentes com o rumo que o clube passou a tomar com as gestões sucessoras, além da dissociação do grande conglomerado que formava a situação. Como Carvalho não tem planos para retornar, o clube sofre com a falta de novas lideranças políticas dispostas a assumi-lo e fazer mais do que a atual direção está fazendo.
Com vários problemas, dentro e fora de campo, o Internacional caminha para tentar planejar um 2014 melhor, já que não tenho tanta certeza assim se haverá este planejamento ou se este será efetuado de forma adequada.
O time precisará de renovação em todos os setores, principalmente do meio para trás. O grande desafio será livrar-se de jogadores que não corresponderam ou que não correspondem mais, devido à idade ou por estar em uma zona de conforto. Porém a maioria possui contratos de longa duração, o que inviabiliza uma deserção em massa. No entanto, a contratação de reforços é essencial para que o time não entre 2014 como figurante ao rebaixamento para a Série B.
Nenhum comentário:
Postar um comentário