segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O céu parece não estar tão azul

No último domingo, o jornal Zero Hora publicou uma entrevista com o novo presidente do Grêmio, Fábio Koff, que tratou do futuro do clube dentro e fora de campo. 

Dentro de campo, um déficit que sinaliza caixa vazio e dificuldades para contratar, enquanto que a parte mais polêmica da entrevista é a frase “A Arena não é nossa. Vamos demorar 20 anos pagando”, que caiu como uma bomba para os gremistas, cuja maioria se voltou contra o futuro mandatário e maior presidente da história do clube, criticando-o pelas declarações e pela lerdeza para contratar jogadores.

Para quem estava acostumado com o otimismo político de Odone, a declaração de Koff foi uma água no chope, pois em um momento onde a televisão reajusta de forma milionária os contratos com os clubes, o Grêmio convive com um alto déficit de R$ 5mi/mês, que deverá ser logo contornado, sob pena de entrar no ciclo vicioso de atrasos de pagamentos que não levam o clube a lugar algum. 

Fábio Koff (ClicRBS)
Prova destas dificuldades foi a perda de jogadores como Gilberto Silva e Naldo, sendo este uma grata surpresa neste final de temporada e cuja saída não era desejada pela maioria dos torcedores gremistas.  O período de recesso está chegando ao fim e o Grêmio contratou apenas Alex Telles e William José, pela qual o último tem alguma notoriedade no futebol nacional por ser a primeira opção de ataque do São Paulo.  Em 40 dias, o time já tem um duelo importante pelo playoff da primeira fase da Libertadores, onde uma precoce eliminação já prejudicaria o ano do clube.

Porém o que mais está gerando discussão em rodas de gremistas é a declaração sobre a Arena, onde Koff mostrou-se preocupado com o futuro de curto e médio prazo do clube, pois o contrato com a OAS parece não ser o mar de rosas que era badalado a quatro-cantos por Odone.

Koff foi franco ao relatar que a Arena não é do Grêmio, pois há um contrato de parceria com a construtora OAS, que precisará retornar o seu investimento efetuado. Na prática, é como se o clube jogasse de aluguel no novo estádio, pois precisa pagar até o ingresso do sócio modalidade especial (R$ 20mi pelo quarto anel), que tinha entrada livro no antigo estádio. Além disso, o clube abriu mão de seu maior patrimônio, o Estádio Olímpico, para entrar nesta sociedade e ter uma casa nova em um formato arena, tendência mundial no esporte e que coloca o campo de futebol em meio a um shopping center, com um emaranhado de opções de comércio, e entretenimento, onde o ambiente tende a ser utilizado ao longo do ano e não somente em dias de jogos. 

Pelo contrato com a OAS, cabe ao Grêmio 65% do lucro liquido pelos próximos 20 anos, algo temerário, já que não há parâmetro no país que possa respaldar números quantitativos, já que os estudos utilizaram a Europa e EUA como cases, onde há uma propensão maior de consumo, embora estejam em meio a crise econômica mundial. Não tenho detalhes dos demais valores e termos acertados, porém imagina-se que após este período a Arena seja totalmente do Grêmio. 

O faturamento (e por consequência o lucro) depende de uma série de fatores incertos, como uma razoável taxa de ocupação do estádio em todos os jogos (levando em conta até o Gauchão), preço dos ingressos, venda de todos os espaços comerciais (que ainda nem estão prontos), patrocínios, venda de Naming Rights (direito a exploração do nome) e a aceitação da população em consumir produtos no complexo em dias sem jogos, onde não há o hábito e o local sem infraestrutura não anima. Na prática, o sucesso do empreendimento dependerá do que o clube em campo poderá oferecer.



Além disso, há o problema do financiamento contraído junto ao BNDES, que gerará um valor mensal razoável para amortização, pois a construção custou cerca de R$ 600 milhões, o que consta como uma grande obrigação para a Sociedade de Propósito Específico (SPE), e travará a possibilidade de lucro, já que ainda levará um tempo razoável para que o empreendimento opere em sua plenitude. É um empreendimento de risco e Koff sabe disso, pois o clube tem a perder com o seu insucesso, ao contrário do rival Internacional com a sua reforma do Beira-Rio.

Pode ser que Koff tenha sido extremamente pessimista na entrevista, porém mostrou que o otimismo que Odone passou ao seu torcedor não passava de uma miragem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário