O Brasil terminou de forma melancólica a participação na tão esperada Copa do Mundo no país. Depois dos 7x1 contra a Alemanha pelas semifinais, o Brasil foi derrotado na decisão do terceiro lugar para a Holanda por 3x0 e encerrou a sua participação com dez gols sofridos em dois jogos, batendo o recorde de gols sofridos (14) em sua história de disputa de Copas.
No fim das contas, o quarto lugar ainda foi lucro para a Seleção Brasileira, que mostrou fraco futebol ao longo da sua campanha na Copa, não conseguindo sequer reproduzir a esquemática de jogo que lhe deu o título na Copa das Confederações que, diga-se de passagem, é tratada com desdém pelos times que participam por ser um teste para a Copa do mundo. A Holanda sequer forçou e mesmo assim conseguiu uma vitória tranquila contra um desorganizado Brasil, que teve o domínio da posse de bola, porém não conseguiu oferecer perigo ao goleiro Cillessen, que foi um expectador de luxo da partida.
Quanto ao jogo, o Brasil teve o chamado “apagão” nos primeiros minutos, caindo em um veneno holandês que se aproveitou da marcação adiantada da Seleção e se aproveitou dos espaços da defesa para conseguir um pênalti logo no primeiro minuto, em um lance onde o árbitro Djamel Haimoudi errou duas vezes, pois foi falta fora da área de Thiago Silva em Robben, e o zagueiro brasileiro deveria ter sido expulso (levou apenas o amarelo) em virtude de ter parado o adversário em um lance de chance clara de gol. Van Persie cobrou e abriu o placar.
Fotos: @fifaworldcup_pt |
A Holanda não parecia disposta a se arriscar, até em função do time não ter esta característica, porém aproveitou o momento de colapso emocional, tático e técnico da Seleção para abrir o segundo, em uma boa jogada na direita com Robben que gerou um cruzamento de De Guzmán, uma falha de David Luiz e uma sobra com total liberdade para Blind fuzilar na altura da marca do pênalti.
2x0 com 15 minutos, que poderiam virar goleada se o time holandês mostrasse pelo menos um espirito competitivo que não pôde ser detectado na partida e nem nas declarações de Van Gaal, que questionou a necessidade de se disputar o terceiro lugar. O ritmo holandês foi de um treino coletivo, porém suficiente para deter a Seleção Brasileira, que teve a oportunidade de ficar com a bola para propor o jogo, porém não teve criatividade nem organização para levar perigo para o gol holandês.
O Brasil terminou a partida com 58% de posse de bola e 11 finalizações, sendo apenas duas em direção ao gol, porém apenas duas na partida inteira são dignas de registros. Ambas em finalizações de Oscar, que deram trabalho para Cillessen. No mais, um festival de chutes afobados que eram facilmente bloqueados pela defesa holandesa ou que iam longe do gol, mostrando que sequer houve pressão do Brasil em busca de reação.
No final da partida, em uma boa jogada pela direita entre Janmaat e Robben, a bola sobrou para Wijnaldum aumentar ainda mais a melancolia das 68.034 pessoas que se dispuseram a assistir “in loco” a partida, além dos milhões de telespectadores.
A Seleção holandesa terminou de forma invicta a sua participação na Copa do Mundo. Van Gaal chegou em 2012 para realizar uma reformação no elenco e para montar um time minimamente competitivo para 2014, atingindo o objetivo e deixando um, já que o treinador consolidou De Vrij e Blind na defesa, além de revelar jovens como Depay, Clasie e Veltman.
O Brasil termina a Copa com muitas incertezas e com pouco legado, já que hoje poucos jogadores são inquestionáveis. Colocaria apenas Thiago Silva e Neymar nesta condição, enquanto outros jogadores como Oscar, Willian, Paulinho e Marcelo deverão ter continuidade no próximo ciclo. Porém a forma como o futebol é tratado no país precisa ser revista, já que há um decréscimo de qualidade técnica nas últimas gerações, que chegou há algum tempo no Campeonato Brasileiro e que hoje respinga na Seleção. Por outro lado, não há evolução tática dos treinadores, que utilizam metodologias e esquemas obsoletos, não acompanhando a tendência coletiva de compactação e intensa ocupação dos espaços, que deixam o país do futebol longe de ter uma Seleção que possa ser considerada a melhor do mundo.
A Alemanha mostra um horizonte, com um programa de capacitação e aperfeiçoamento de jogadores nas Categorias de Base, baseado em disciplina e métodos que começam desde a garimpagem de jovens jogadores e treinadores, dispostos desde cedo a aperfeiçoar seus fundamentos técnicos e a aplicação tática, para que o futebol local evoluísse, e como consequência, o nível da Seleção melhorasse. A federação alemã começou praticamente do zero depois do vexame na Europa de 2000 e não se enganou com o vice-campeonato da Copa de 2002 para implantar o projeto, que já trouxe resultado na Copa de 2006 com um terceiro lugar, um novo terceiro em 2010 e que agora poderá lhe dar um título mundial, que não vem desde a Copa de 1990.
No Brasil, não há padrão nem métodos nas categorias de base, largada às moscas para que empresários possam enriquecer à custa dos clubes. Desde cedo, os jogadores já são tratados como mercadorias e são blindados com altos salários e mordomias, que barram a sua evolução natural. Não há mais um programa que favoreça o amadurecimento dos jogadores, enquanto que os clubes também sofrem com a política das federações estaduais e da CBF, que obriga-os a disputar os Campeonatos Estaduais e não dá tempo no calendário para treinamento/capacitação com amistosos contra equipes europeias, que favorecem o distanciamento do futebol brasileiro para com o europeu.
O Brasil precisa mudar, encontrar soluções pois a classificação para a Copa de 2018 é uma incógnita, já que com este grupo e geração, a promessa será de uma eliminatória difícil.
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