terça-feira, 17 de maio de 2011

Newey quebra o silencio e fala sobre Senna/94

O que a imbatível RBR RB7, de Vettel, e a Williams FW16, em que Senna viria perder a vida em um acidente em Imola, têm em comum?

Ambos os carros foram projetados por Adrian Newey, mais conceituado engenheiro-projetista da Formula 1 contemporânea, que depois de mais de 17 anos em silêncio, resolveu tocar no assunto que é tão dolorido para nós brasileiros pela morte do maior ídolo nacional na categoria, e que quase o fez abandonar a carreira de desenvolvedor de carros.


Newey, com passagens campeãs pela Williams (90/97), McLaren (98/2006) e desde 2007 na Red Bull, foi entrevistado pelo jornal britânico “The Guardian”, colocando novos elementos a respeito das causas que teriam levado ao fatídico acidente.

“A verdade é que ninguém jamais saberá exatamente o que aconteceu. Não existe dúvida que a coluna da direção falhou e a grande questão é se quebrou no acidente ou se causou o acidente. Existiam fissuras de fadiga e teria quebrado em algum momento. Não existe dúvida que o projeto foi ruim. No entanto, todas as evidências apontam que o carro não saiu da pista devido uma quebra da coluna”.

“Se você olhar as tomadas das câmeras, especialmente do carro de Michael Schumacher, o carro não saiu de frente. Ele saiu de traseira, o que não condiz com uma quebra da coluna. A traseira do carro saiu e os dados sugerem o que aconteceu. Ayrton corrigiu indo para 50% do acelerador, o que seria para tentar reduzir a saída de traseira, então, meio segundo depois, ele freou forte. A questão é por que a traseira saiu? O carro bateu no chão mais forte do que o normal na segunda volta, pois a pressão do pneu já deveria ter subido, o que faz você pensar que o pneu traseiro direito provavelmente furou devido algum detrito na pista”.

Newey também comentou sobre a dificuldade de assimilar a fatalidade e suas consequências, pensando, juntamente com o então diretor da Williams Patrick Head, em abandonarem suas funções e deixarem juntos a categoria.

“Bem, o pouco cabelo que eu tinha caiu. Então, me mudou fisicamente. Foi terrível. Tanto Patrick Head quanto eu nos perguntamos separadamente se queríamos continuar nas corridas. Queríamos estar envolvidos em um esporte em que pessoas podem morrer em algo que nós criamos? Segundo, o acidente foi causado por algo que quebrou por um projeto ruim ou negligente? Então, o caso na justiça começou. Foi depressivo, uma pressão extra. Para todo o time foi incrivelmente difícil. Lembro que o dia depois da corrida era um feriado e alguns de nós viemos tentar investigar os dados para descobrir o que tinha acontecido. Foram semanas negras".

A questão que fica é porque foram necessários mais de 17 anos para uma parte interessada, que acompanhou de perto o acidente e que teve responsabilidades por ter construído o carro, fale sobre o assunto, colocando à tona elementos reveladores em um acidente, que até hoje não é muito bem explicado, e que provavelmente nunca terá suas causas devidamente esclarecidas.

Na época, os carros já eram dotados de muita tecnologia, e com a telemetria capaz de detectar minuciosamente o que ocorreu antes da batida na Tamburello. Porém, quem sabe algum dia alguém conte toda a verdade?

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