Como falei no post anterior sobre o racha do Clube dos 13, o fim deste grupo é um caminho sem volta. Extraoficialmente, praticamente todos os clubes abandonaram o barco, e a própria entidade está recomendando alguns clubes a negociarem individualmente a quota de TV.
O Clube dos 13 foi um embrião para uma liga de clubes, que iria organizar o campeonato nacional enquanto a CBF ficaria responsável pela Seleção Brasileira. Não vingou, com a entidade exercendo apenas o papel de cuidar dos direitos de transmissão e outras questões administrativas, como empréstimos, adiantamento de quotas e outras coisas deste tipo. A forma de divisão desta quota desagrada os grandes times do eixo, pois além de estarem em mercados mais valorizados foram criados como Frankenstein’s para a audiência dos canais, ganhando uma grandeza extraterrestre. Porém o intuito deste post é retratar o caminho que este racha deverá trazer, comparando com algumas ligas europeias que utilizam este modelo com as que utilizam um modelo de divisão harmônica.
Grande parte dos clubes, ou talvez até todos da primeira divisão, deverão negociar individualmente com a Rede Globo. A emissora, além de deter a maior visibilidade, também tem a grande influência politica de anos e anos de controle do certame, além de estar com uma relação estreitíssima com a CBF. A emissora deverá pagar o que os clubes que tem a maior audiência da casa querem, porém os outros terão que se contentar com o que a emissora vier a oferecer, aumentando a desigualdade econômica entre os clubes. Quem não entrar nessa, certamente sofrerá represálias dentro de campo e fora dele.
A quota de TV é um dinheiro certo aos famigerados clubes, configurando-se na sua maior fonte de arrecadação. O site Futebol Finance possui o maior acervo de informações a respeito, e me baseei neste para fazer tal estudo. Na tabela abaixo, consta o faturamento em euros (€) da temporada 2009/10 do Top10 da Europa, junto com o faturamento dos dois maiores clubes brasileiros na temporada 2009: São Paulo e Internacional.
A percentagem dos direitos de TV sobre o faturamento total é variável de liga para liga, com esta diminuindo onde há uma divisão mais harmônica entre os clubes. Infelizmente não consegui dados da Liga Italiana, e esta ficou faltando para o scout, porém da Europa fiz o levantamento da liga alemã, espanhola, francesa e inglesa.
Na Inglaterra, na França e na Alemanha (esta sem dados precisos), há uma excelente organização na liga de clubes, com uma porcentagem sendo rachada igual aos participantes, outra de acordo com a classificação no último campeonato, e uma menor de acordo com o histórico de tamanho da torcida e/ou audiência do clube. É evidente que sou contra a todos os clubes ganharem o mesmo valor, acho que tem que ser valorizado o seu histórico, porém o peso deste item tem que ser o menor possível em relação ao total, mantendo certo equilíbrio da equipe que ganha mais e a que ganha menos com a média que deveria ser se essa divisão fosse harmônica. Nota-se um campeonato inglês e alemão equilibrado, com jogos de alto nível técnico. Os clubes com maior torcida tiram proveito da relação com o torcedor para atraírem outras fontes de receita, e mantendo um poder de barganha para a contratação de jogadores a preços estratosféricos.
A Espanha utiliza o modelo de negociação individual e direta, o mesmo que deverá ser utilizado no Brasil. Nota-se que Barcelona e Real Madrid faturam quase 50% do montante total, com o resto sendo rachado entre os 18 clubes, desnivelando economicamente e, por consequência, tecnicamente o campeonato. A Itália utilizou por 11 anos este modelo espanhol, porém acabou voltando atrás devido ao alto desnivelamento entre as equipes. A liga italiana dividiu 40% do valor arrecadado da TV com todos os clubes, 30% de acordo com a classificação anterior e 30% de acordo com o tamanho da torcida. Tal fato, mesmo somado com a crise econômica, não foi danoso aos grandes clubes, que passaram arrecadar menos com a TV, tanto que a Internazionale venceu a última edição da Champions League.
No Brasil, este modelo servirá para apenas aumentar a grossura dos fios da peneira na qual os clubes ousam quererem tapar o sol. Não há organização administrativa suficiente na maioria dos clubes para atrair outros recursos que não sejam provenientes de quotas de TV e de patrocínios de camiseta. Como consequência este modelo enfraquecerá ainda mais o nosso futebol, devendo o modelo antigo ser retomado em seguida, porém depois de um grande estrago na finança da maioria dos clubes, que se fossem tratados como empresas já teriam falido há tempos, devido às altas dívidas.
O intuito do post era mostrar o impacto que esta mudança poderá trazer para o nosso futebol. Para quem torce por um time do eixo Rio/São Paulo, verá melhorias, porém para quem torce por outro time, poderá desiludir-se do futebol. Estou atento às movimentações em relação a este impasse, sendo que a qualquer momento poderei retomar o assunto.
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